Mais Médicos

De tanto que já ouvi e li resolvi passar um pouco de minhas impressões sobre a chegada dos médicos cubanos. Cada um tem razão em sua ótica, afinal são perspectivas distintas focadas em objetivos diversos e baseadas em éticas próprias. Não nos cabe julgar, mas devemos separar o certo do errado e fazer as ponderações necessárias.

Acessei a página do programa Mais Médicos e fui na seção de perguntas frequentes e obtive algumas informações importantes que vou transcrever aqui :

Os médicos receberão uma bolsa-formação, paga pelo Governo Federal, de R$ 10 mil por mês. Além disso, os participantes terão uma ajuda de custo para instalação. Ao aderir ao programa, os municípios ficarão responsáveis pela moradia e alimentação desses médicos.

Nossa o salário parece ser bom, por que será que os médicos daqui não querem ir? Ai podemos pensar em vários motivos, como o status, a incapacidade de se adaptar em cidades pequenas, medo de não conseguir desenvolver o trabalho diante das condições precárias dos postos e hospitais públicos, insegurança, salário não atraente... Enfim, não adianta especular muito, mas o fato é que as vagas foram estendidas aos médicos do Brasil e do Exterior... Alguns podem considerar o salário baixo ou alto, mas no caso de Cuba há um vislumbramento maior, de um salário exorbitante e de condições melhores para os médicos e suas famílias, já que fica assim: 90% da remuneração vai para o governo cubano e 10% para a família... então teoricamente esse salário seria apenas de R$1.000,00 que vai diretamente para a família do médico lá em Cuba... Bem agora pasmem o porque do exorbitante... lá eles recebem em média de 60 a 100 reais por mês... Então podem tirar suas conclusões dos motivos da adesão no programa: casa, comida, locomoção por conta dos municípios, salário 1.000% a mais para a família....

Vamos a mais dois trechos:

Os profissionais estrangeiros selecionados para participar da iniciativa terão registro provisório do Conselho Regional de Medicina, que terá validade restrita à permanência do médico no projeto para atuar na atenção básica e válida apenas na região indicada pelo programa.

O Ministério de Relações Exteriores concederá visto temporário de aperfeiçoamento médico pelo prazo de três anos, prorrogável por mais três. Essa mesma autorização será dada aos dependentes legais do médico estrangeiro, incluindo companheiro ou companheira. Não será permitida a transformação do visto temporário em permanente.

Ai chegamos a mais uma constatação...seria uma escravidão disfarçada, modernizada? Eles estão vindo em condições desumanas? Será apenas uma questão de ótica? Acredito que nesse caso é mais uma questão política e análise racional na visão de negócios... Pois bem, o governo brasileiro está trazendo médicos de Cuba, que cá entre nós sabemos que é um país que vive num regime comunista e que não é um mar de rosas, mas vai investir recursos financeiros, humanos e enfrentar manobras políticas a troco de correr o risco das pessoas transformarem o Brasil num campo de refugiados? Bem, parece ser cruel esse ponto de vista, mas infelizmente é uma verdade, pois se eu vivesse num país cheios de embargos, com pobreza, sem oportunidades de crescimento e aparecesse um país como o Brasil, visto por todos os continentes como o país da liberdade, da alegria, dentre outras coisas, com uma oferta de emprego, com salário maior, ares diferentes e oferecendo também um visto permanente e podendo levar a família,  precisa pensar mais?!

Sobre a limitação geográfica é outro ponto delicado, pois se aqui mesmo no país existem as divergências regionais entre os Estados, imagine se você chegasse na região determinada para sua atuação, não gostasse e quisesse mudar? Ia acabar dando no mesmo, com muitos preferindo regiões mais privilegiadas e urbanas... E a questão política é delicada pois o governo não vai querer travar uma batalha diplomática.

Talvez essas condições possam estar associadas a uma escravidão do século 21, pois pensar que os registros no CRM e vistos serão provisórios e vinculados à permanência no programa, que além disso há uma limitação geográfica e impedimento de exercício da função em hospitais e clínicas particulares, é o cúmulo; mas pensando bem talvez seja apenas uma forma de proteção.

Independente de fatores políticos, econômicos ou diplomáticos, não devemos hostilizar esses médicos, nem sermos preconceituosos, afinal eles são pessoas como nós e que merecem respeito e gratidão. Por que gratidão? Simples, eles estão vindo para ajudar a curar e a salvar vidas!





Dados: http://portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/arquivos/pdf/2013/Jul/12/perguntas_frequentes.pdf